All the flowers in Paris (Sarah Jio)
- Michelle Leonhardt
- Apr 18
- 6 min read
Algumas histórias nos prendem por apresentar algumas características específicas que a gente gosta. "All the flowers in Paris" é um desses casos. Pra mim chamou atenção a trama que mostra duas linhas temporais, onde o passado e o presente se entrelaçam para revelar segredos.
Se você gosta de histórias envolventes, narrativas em diferentes pontos de vista e aquela pequena dose de mistério, fique comigo que eu te conto mais...

Título: All the flowers in Paris
Autor: Sarah Jio
Editora: Orion
Ano: 2019
Páginas: 305
Minha avaliação: ⭐⭐⭐⭐ (4/5)
Sinopse: When Caroline wakes up in a Paris hospital with no memory of her past, she's confused to learn that for years she's lived a sad, reclusive life in a sprawling apartment on the rue Cler. Slowly regaining vague memories of a man and a young child, she vows to piece her life back together--though she can't help but feel she may be in danger. A budding friendship with the chef of a charming nearby restaurant takes her mind off her foggy past, as does a startling mystery from decades prior.
In Nazi-occupied Paris, a young widow named Céline is trying to build a new life for her daughter while working in her father's flower shop and hoping to find love again. Then a ruthless German officer discovers her Jewish ancestry and Céline is forced to play a dangerous game to secure the safety of her loved ones. When her worst fears come true, she must fight back in order to save the person she loves most: her daughter.
When Caroline discovers Céline's letters tucked away in a closet, she realizes that her apartment harbors dark secrets--and that she may have more in common with Céline than she could have ever imagined.
Nesse livro acompanhamos a história de duas protagonistas. De um lado, temos Caroline Williams, que busca respostas sobre seu passado. Do outro, no passado, Céline Durand, em meio à guerra, enfrentando desafios que moldam seu destino.
A história de Caroline se passa na França, em 2009. Somos apresentados a ela de um jeito trágico: logo no primeiro capítulo acompanhamos um acidente onde ela está envolvida e ficamos sabendo que ela perde a memória.
Após uma semana no hospital, Caroline precisa retomar sua vida. O pessoal do hospital não encontra nenhum parente dela então decide enviá-la de volta ao lugar que conseguiram encontrar como pertencendo a ela: um apartamento de 3 quartos, na rue Cler, em Paris. Acontece que ela realmente não se lembra de nada (nem do apartamento) e precisa investigar um pouco sobre si mesma.
"I am so paralysed by the monumental task of unpacking my life that I have no idea where to start" (p.28)
Conversando com vizinhos ela descobre que é uma pessoa reclusa e que aluga o apartamento já há 3 anos. Explorando detalhes do apartamento ela encontra um quarto com uma decoração muito diferente, quase como se tivesse parado no tempo e não pertencesse ali. Dentro dele ela acha um punhado de cartas escritas por Céline e uma velha caixa de fósforos com o nome "Bistrô Jeanty".
Curiosa com o quarto estranho dentro do apartamento e com seus achados, ela parte em busca de respostas, tanto para seu passado como para aquele cômodo diferente e a história por trás das cartas de Céline. Mas essa busca não é simples, aos poucos Caroline vislumbra lampejos de seu passado, mas, ao mesmo tempo, descobre que talvez esteja em perigo.
"The more I discover about myself, the more confused I feel" (p.50)

A história de Céline se passa também na França, mas mais ou menos 60 anos antes da história de Caroline. Ela mora com seu pai Claude, filho de judeus, e sua filha pequena Cosi. Seu marido, Pierre, morreu tragicamente em um acidente e nunca chegou a saber que Céline esperava um filho.
A família é proprietária de uma floricultura chamada Bella Fleur, que atende pessoas influentes da sociedade. Uma dessas pessoas é Madame Bernard, mãe de Luc, que é um amigo de anos de Céline e por quem ela nutre um afeto maior. Luc e sua mãe gerenciam um restaurante chamado "Bistrô Jeanty".
"It's funny how different a child can be from a parent. Her son, Luc, for instance, is nothing like her. We've known each other since secondary school, and I've always thought the world of him." (p.8)
Em uma ida ao restaurante, Céline é notada por um oficial alemão que parece conhecer a ascendência judia da família do pai dela. Ao mesmo tempo em que todos (incluindo madame Bernard) passam a se voltar contra sua família aos poucos, seu grande aliado Luc é enviado para uma missão fora de Paris. A ela só resta lutar, com a ajuda distante de Luc, para proteger sua filha.
"There's cause to be concerned, all kinds of it. But caution is a very different thing than paranoia, and I refuse to be ruled by fear" (p.8)
É claro que a história dessas duas protagonistas se cruza em algum momento, como é comum em livros de diferentes linhas temporais. Só não vou contar nada mais sobre como isso acontece para não deixar spoilers por aqui.
Minhas impressões:
A cena inicial de Caroline, descrevendo o acidente, foi suficiente para me prender no enredo logo de cara. Acho que já comentei aqui que gosto de cenas iniciais fortes pois aguçam demais a minha curiosidade. Por outro lado, o começo da história da Cèline foi normal, nada chamando muito minha atenção. Não estou dizendo que o início da trama da Cèline foi ruim, ela só não foi tão impactante como a da Caroline.
Apesar de não ter achado o início da Cèline tão impactante, alternei diversas vezes de preferência entre uma e outra linha temporal durante a leitura. Achei isso um ponto bem positivo pois me identifiquei com ambas as protagonistas de alguma forma.
Aliás, as duas protagonistas se mostraram bem interessantes já que elas cometem erros, tomam decisões questionáveis e nem sempre agem da maneira que esperamos. Justamente por isso, nem sempre concordamos com tudo o que fazem.
Um ponto bem legal é que a autora foi escrevendo a história de modo a manter sempre algum mistério no ar, mesmo quando já era possível entender o elo ligação das personagens. No arco de Cèline, temos toda a questão iminente da guerra, do que vai acontecer com ela e com os que a cercam. No arco de Caroline, por conta da perda de memória, o suspense se mantém praticamente até o final.
Ponto positivo para a ambientação em Paris: a Rue Cler é bem fofa, cheia de restaurantes, e cafés, supermercados, floristas, padarias e outras coisas gostosas, como descrito nesse link e nesse outro link também. Eu sempre comento sobre as ambientações de livros pois para mim faz muita diferença. Quando eu gosto da ambientação, adoro ficar pesquisando e olhando sobre os lugares e fico imaginando as coisas acontecendo e o cenário.
Mas eu não poderia deixar de fazer algumas ressalvas pois pequenos pontos me incomodaram. Na questão histórica, por exemplo, a vida que Cèline leva em 1943 não parece refletir o que realmente aconteceu na época. Acho que era uma vida mais difícil, com mais fome, com mais medo (pelo menos é o que sabemos hoje sobre a época) - tenho a impressão que a autora não se importou muito com o contexto histórico apurado, ela escreveu a história com uma licença poética. A mesma sensação de incômodo tive no arco de Caroline: fiquei me perguntando como é que alguém sofre um acidente, perde a memória, acorda sem familiares por perto para ajudar e não se preocupa em imediatamente procurar a respeito de si mesma, não se preocupa em saber como sobrevive (com o que trabalha), como leva a vida... Claro, isso tudo foi explicado pela autora lá no final mas eu, enquanto leitora, me incomodei com a passividade da Caroline frente ao seu problema de memória.

Também me senti um pouco incomodada com as muitas coincidências que ela usou dentro da narrativa: acontecimentos e nomes sendo constantemente recorrentes.
Apesar dessas ressalvas, a leitura me surpreendeu pela maneira como costura passado e presente - foi um pouco diferente do que estou acostumada - e gostei disso. Infelizmente o livro ainda não foi publicado aqui no Brasil e nem sei se será. Se você gosta de livros com essa temática e consegue ler em inglês, pode ser uma boa dica.
Por fim, preciso dizer que a capa na versão física é muito linda e tem muito mais elementos que se relacionam com o enredo do que a capa do ebook.
Agora quero saber de você! Já leu esse livro ou ficou curioso para conhecer? O que acha de histórias com duplas linhas temporais e pontos de vista alternados? Tem dicas de livros semelhantes? Gosta de histórias ambientadas em Paris? Me conta nos comentários – vou adorar saber!
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