Tempo de Regresso (Kristin Hannah): um drama sobre laços partidos e corações em reconstrução.
- Michelle Leonhardt
- May 16
- 6 min read
Chegou o dia de compartilhar por aqui as minhas impressões sobre o livro desencalhado do último mês. Para o mês de abril a proposta era escolher um livro que me fizesse lembrar da estação atual - outono - seja pelo clima, pela atmosfera reflexiva, pelas temáticas abordadas ou mesmo pela capa (eu escolhi somente pela capa pois não sabia quase nada do enredo).
O escolhido da vez foi o "Tempo de Regresso" da Kristin Hannah (tem post no blog explicando direitinho como funciona essa escolha!). Se você já conhece a escrita da autora, prepare o coração: esta história pode parecer suave à primeira vista, mas guarda reviravoltas que chegam com força, como uma ventania levantando as folhas secas de outono...

Título: Tempo de Regresso
Autor: Kristin Hannah
Editora: Arqueiro
Ano: 2019
Páginas: 336
Minha avaliação: ⭐⭐⭐⭐ (4.5/5)
Sinopse: Meghann Dontess é uma mulher atormentada pela tristeza e pela solidão, e não consegue lidar com a difícil decisão que tomou na adolescência e que a fez perder tudo, inclusive o amor da irmã. Advogada de sucesso, trabalhando com divórcios, ela não acredita em relacionamentos – até que conhece o único homem capaz de fazê-la mudar de ideia.
Claire Cavenaugh está apaixonada pela primeira vez na vida. Conforme seu casamento se aproxima, ela se prepara para encarar a irmã mais velha, sempre tão dura e arrogante. Reunidas após duas décadas, essas duas mulheres que pensam não ter nada em comum vão tentar se tornar algo que nunca foram: uma família.
Sensível e divertido, Tempo de regresso fala sobre os erros que cometemos por amor e as dores e as delícias que apenas irmãs podem compartilhar.
Bom, não é novidade que eu gosto - na verdade amo - os livros da Kristin Hannah. Sou bastante apaixonada pela maneira como ela conta histórias e por como ela constrói personagens. Nessa história, me chamou atenção que ela troca o pano de fundo histórico (tão presente em obras como "O rouxinol" e "Os quatro ventos") por um cenário bem mais íntimo: o da família.
Como a sinopse já indica, a história gira em torno de Meghann Dontess e Claire Cavenaugh, irmãs que cresceram juntas - mas que agora se encontram distantes - tanto emocional como fisicamente.
Meghann é uma advogada renomada, especializada em divórcios, e a mais velha das irmãs. Rica e sofisticada, ela vive cercada de luxo e clientes da alta sociedade. Mas, apesar do sucesso profissional, Meghann enfrenta uma solidão: ela mantém relações frias com a mãe e irmã, e não consegue criar vínculos afetivos verdadeiros.
Claire, sete anos mais jovem, é o oposto: uma mulher simples que vive no interior, administrando uma pousada junto com seu pai, Sam. Ela é mãe de uma menina de 5 anos chamada Alison e está prestes a se casar com um homem que conheceu há pouquíssimo tempo. Diferente de Meghann, Claire valoriza laços afetivos e mantém vivas as amizades de infância (o seu grupo de amigas é chamado de "as azuladas").
"(...) eram apenas conhecidas cordiais, que dividiam um laço de sangue e uma péssima infância." (p.21)
"(...) fazia anos que Meghann e Claire viviam no alto de um penhasco, sustentadas por uma fina camada de cortesia e fingimento." (p.173)
Filhas de mesma mãe, mas de pais diferentes, Claire foi criada por Meghann, já que a mãe, Ellie, sempre foi ausente. Ellie é uma atriz que vive da fama do único seriado que fez na vida e sempre negligenciou o cuidado e o afeto das filhas para focar na carreira. Chegou ao ponto de abandoná-las por isso. Foi Sam quem, ao descobrir naquele momento que tinha uma filha, decidiu procurá-la para conhecê-la e cuidar dela. Só que Sam não é pai biológico de Meghann e, sem se sentir incluída na nova dinâmica familiar, Meghann se afasta.
A narrativa do livro começa quando, vinte anos após se distanciar da irmã, Meghann se vê precisando tirar umas férias, mas não sabe para onde ir. Sua psiquiatra sugere que visite Claire e retome os laços, mas ela reluta bastante. Para Meghann, Claire "não deu certo". É aquela menina que abandonou a faculdade, fez escolhas erradas e hoje não é bem- sucedida. Porém, ao saber que Claire pretende se casar com um quase desconhecido, Meghann decide tomar coragem e passar suas férias na pousada da irmã, com o objetivo de fazê-la desistir do casamento.
"Você tem 42 anos. Se não tem aonde ir e ninguém para visitar, está mais do que na hora de repensar sua vida." (p.130)
Claro que a irmã mais nova não está confiante, nem muito satisfeita com a ideia da visita da mais velha. Ela teme o julgamento de Meghann pelo seu estilo de vida simples e suas decisões impulsivas. Meghann, afinal, é rica e arrogante, e se orgulha de ter construído uma carreira perfeita.
"Bela porcaria. Você tem dinheiro, eu presumo. Mas você dorme com seu dinheiro à noite? Ele te abraça quando você acorda assustada por causa de um pesadelo?" (p.101)
E, como não podia deixar de ser, é esse reencontro que movimenta o enredo. O que era pra ser apenas uma visita com o intuito de impedir um casamento precipitado transforma-se em uma oportunidade de crescimento para ambas, em um processo de cura e reconciliação.
Além da relação familiar, acompanhamos também Meghann redescobrindo o amor - algo que ela não acreditava ser possível. Ela conhece Joe, um viúvo que também carrega culpas e dores profundas e com ele aprende a lidar com traumas e encontrar paz no meio da dor.
"Cedo ou tarde, Meg, a questão recai na família. O passado tem uma forma irritante de se fazer presente." (p.119)
Minhas impressões:
Esse é um daqueles livros que me lembram porque eu amo ler. É um livro que me colocou frente a frente com meus próprios dilemas e com as relações familiares que todos carregamos, de alguma forma. Kristin Hannah tem uma maneira única de escrever sobre laços familiares com muita verdade, mostrando que, muitas vezes, não se trata de amor incondicional, mas sim de tentativa - do esforço constante - de consertar aquilo que já foi quebrado.
Uma história de drama familiar, mas...
Comecei a leitura com a simples premissa de um drama familiar sobre perdão. nada demais, pelo menos foi o que pensei ao ler a sinopse. O início me fez pensar: "Ok, uma história de reconciliação, mas sem grandes reviravoltas". Fui lendo, me afeiçoando aos personagens, mas até cerca de 75% do livro minha impressão era: "Kristin Hannah geralmente entrega muita emoção, mas este está... tão 'normal'. Por favor, não me decepcione, kristin."
E então, bem aos 75% do livro, a reviravolta aconteceu. E, como sempre, kristin não me decepcionou. Mas não foi uma reviravolta qualquer: foi algo que me balançou de uma forma tão intensa que fiquei em choque. Eu realmente não vi o plot chegando. O que parecia ser uma história comum ganhou uma profundidade que mexeu com meus sentimentos.
"Você não pode tomar decisões pelos outros, Claire, ainda mais por quem te ama." (p.372)
A beleza do reencontro entre Meghann e Claire
A narrativa, escrita em terceira pessoa, nos apresenta diferentes pontos de vista dos personagens, o que dá à história uma riqueza de sentimentos e perspectivas. A reaproximação entre Meghann e Claire é tratada com sensibilidade e realismo. A forma como as irmãs lidam com os conflitos e a dor do passado é muito tocante.
Na minha opinião, Kristin tem o dom de retratar relações familiares complexas com profundidade emocional, explorando a dificuldade de se reabrir ao outro de forma muito realista.
"As duas viviam fazendo aquilo, interpretando errado, pensando o pior. Não admirava que se magoassem com toda conversa." (p.277)
Sentimentos à flor da pele
Durante a leitura, fui tomada por muitos sentimentos contraditórios. Tive raiva da mãe das meninas (a descrição de uma mãe narcisista me deixou revoltada), senti receio quanto ao casamento apressado de Claire e, no começo, a arrogância de Meghann me incomodou. Porém, ao longo da história, desenvolvi uma empatia enorme por ela, vendo que o orgulho e o distanciamento podem ser mecanismos de defesa para alguém ferido. Sofri com Claire, e amei acompanhar Alison. Também me vi questionando os interesses românticos das protagonistas.
No fim, Tempo de Regresso não é apenas uma história sobre reconciliação, mas também sobre temas difíceis.
A capa do livro pelo mundo
Enquanto espiava as capas internacionais do livro, percebi que a edição brasileira da Arqueiro tem uma capa muito bonita, especialmente com as folhas representando um aspecto mais natural e acolhedor.
A capa da edição holandesa também me agradou. Já a edição da Bertrand, embora não me incomode, não é a que mais me cativa. Gosto de capas mais simples e, geralmente, evito aquelas que trazem retratos de pessoas. Porém, como as ilustrações da capa da Bertrand são apenas perfis, nào me incomodou tanto.
Vale a pena ler?
Kristin Hannah sempre entrega histórias muito emocionantes. Seus livros nos fazem refletir, sentir e, muitas vezes, chorar. Se você gosta de histórias sobre família, perdão e relações familiares realistas (mesmo com todas as suas imperfeições), com certeza este livro vai tocar seu coração. É uma leitura mais suave do que os dramas históricos da autora, mas nem por isso uma história menos marcante.
E você, já leu alguma obra da autora? Qual história te tocou mais? Compartilha aqui nos comentários — vou adorar trocar impressões e descobrir quais livros tocaram você também.
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