O sol é para todos | Resenha
- Michelle Leonhardt
- Jul 19, 2023
- 5 min read
Updated: Apr 25
A resenha de hoje é de um livro que eu li lá em 2017 e que eu tinha guardado algumas anotações sobre ele em um papel. Como agora resolvi catalogar minhas leituras nesse espaço, estou transcrevendo minhas impressões desse super clássico, tal qual escrevi na época. Interessou? Vem comigo então.

Título: O sol é para todos
Autor: Harper Lee
Editora: José Olympio
Ano: 2006
Páginas: 364
Gênero: Clássico
Título Original: To kill a mockingbird
Minha avaliação: ⭐⭐⭐⭐ (4/5)
Sinopse: Um livro emblemático sobre racismo e injustiça: a história de um advogado que defende um homem negro acusado de estuprar uma mulher branca nos Estados Unidos dos anos 1930 e enfrenta represálias da comunidade racista. O livro é narrado pela sensível Scout, filha do advogado. Uma história atemporal sobre tolerância, perda da inocência e conceito de justiça.
Lembro que na época eu andava bem interessada em ler mais clássicos e esse era um clássico bastante comentado que eu nunca havia lido. O que mais atraiu para a escolha dele na época? Bem... uma pequena lista...
- Vencedor do Pulitzer em 1961;
- Um livro banido em muitos lugares;
- Pano de fundo: depressão dos anos 30 nos Estados Unidos; (alô ficção histórica que eu amo!);
- Foi adaptado para o cinema e levou estatuetas do Oscar;
O momento histórico no qual a história se desenrola é o período da Grande Depressão americana, em 1929 (especificamente 1930). [abre parênteses para contextualizar]
A grande depressão é considerada o pior e mais longo período de recessão econômica do século XX.
Com o fim da primeira guerra a Europa estava destruída e debilitada e então os Estados Unidos surge como uma potência (seu território saiu ileso e sua capacidade de produzir também). Assim, os EUA começam a produzir para atender seu mercado e o europeu também. Cria-se uma euforia econômica por lá e vincula-se o consumismo à felicidade. Aí a Europa vai se recuperando e diminuindo o consumo com os EUA gerando uma superprodução com estagnação do consumo. Ainda: especulações financeiras dentro desse cenário fizeram com que a bolsa de Nova Iorque quebrasse e com ela o caos toma conta: desemprego, falência, caos social... enfim... um período complicado de se viver. *Em tempo: como a história se passa nos EUA eu vou ignorar os efeitos da depressão em outros países que não interessam para o contexto
[fecha parênteses de contextualização]
A história é narrada pela pequena Jean Louise Fincher (também conhecida como Scout) entre seus 6 e 9 anos. É interessante notar como o fato de ser narrado por uma garotinha ingênua é crucial para o que considero ser o sucesso do livro. Nós, leitores, sabemos e entendemos muito mais nas entrelinhas do que de fato nos é apresentado. Além disso, vamos acompanhando a personagem crescer e passar a entender muitas coisas com o próprio amadurecimento. Assim, o que pode parecer bobo aos olhos dela na verdade acontece por um motivo muito maior. Com o tempo ela vai construindo um conhecimento em torno de muitas coisas que a afetam direta ou indiretamente - e isso eu acho muito legal acompanhar!
"Entendi tudo o que tinha se passado naquela noite e comecei a chorar. Tem foi muito cuidadoso e, pela primeira vez, não disse que uma pessoa com quase 9 anos de idade não fazia uma coisa daquelas."
Bem, Scout é uma menina que vive com seu irmão Jem e seu pai Atticus na cidade de Maycomb - Alabama. No início o livro foca muito mais em mostrar a vida das crianças e a sociedade da época. Apesar de parecer meio parado esse começo (não há conflito ainda), é muito legal ver as brincadeiras típicas de crianças... Scout e Jem passam o verão na companhia de Dill (que vem para a cidade) e se concentram na figura de Boo Radley (um vizinho que nunca viram mas que tem uma reputação pra lá de esquisita - inclusive as crianças passam correndo pela casa de tanto medo, kkkkk). A aventura dos meninos passa a ser justamente fazer Boo Radley sair de casa.
Esse começo situa muito bem o leitor na contextualização da sociedade da época, na apresentação dos personagens principais e na formação do caráter das crianças. Aos poucos, bem ingenuamente, ainda nessa parte, o livro vai pincelando toda a questão de Atticus ser advogado e estar defendendo um negro. São apenas pinceladas, jogadas aqui e ali, mas que nos mostram que as crianças copiam as ações e comportamento de seus pais.
"Querida, não se importe de ser chamada de algo que as pessoas acham que é um insulto. Isso só mostra como essa pessoa é mesquinha e não a atinge."
Na segunda parte é que passamos a entender o real conflito do enredo. Nessa parte somos apresentados a situações muito tensas de uma forma bastante suave (lembre-se: quem narra a história é Scout). Nessa parte tudo acontece muito mais rapidamente e acompanhamos todo o julgamento do caso em questão e também todo o desenrolar dos fatos após o resultado do mesmo. Enfim... é onde todo o desenrolar da história, de fato, acontece. Nos momentos finais do livro conhecemos melhor diversos personagens (incluindo Boo Radley) e outros que são passageiramente apresentados no decorrer do livro (vou ser sucinta para não deixar escapar nenhum spoiler).
Opinião:
Vou ser bem sincera: achei o livro interessante mas bastante previsível em diversos momentos. Sim, você lê um pouco e sabe como algumas coisas vão acontecer... há uma reviravolta importante mas o ponto mais crucial do desfecho pode ser facilmente previsto já quando acontece seu fato relacionado. Ainda assim acho que o livro é bom e vale a pena ser lido.
Apesar de não ser o melhor livro que li na vida sobre a temática, eu avaliei com 4 estrelas. E isso se deve ao fato de que foi escrito nos anos 60 em um momento em que a sociedade não falava tão abertamente sobre alguns temas. O recurso usado pela autora (o olhar de uma criança) pode ter sido uma maneira de suavizar o tema forte (ou melhor: *os temas*) discutidos sem chocar tanto a sociedade. Isso é super importante ter em mente ao ler o livro.
Além disso é uma leitura fácil, gostosa, tranquila. Uma linguagem fácil de entender e acompanhar. Um trabalho de narrativa e contextualização bem feito.
Pra quem eu recomendo o livro? Para todos pois é um clássico que deve ser lido. Há personagens emblemáticos e reviravoltas interessantes (ainda que previsíveis). É um livro corajoso para sua época.
Frase marcante:
"Ainda que tenhamos perdido antes mesmo de começar, não significa que não devemos tentar"
Então tá. Um grande abraço e boas leituras!