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A Inquilina de Wildfell Hall (Anne Brontë)

  • Writer: Michelle Leonhardt
    Michelle Leonhardt
  • May 6
  • 7 min read

Hoje aparecendo por aqui para falar de um clássico. Gosto de ler clássicos pois acredito que eles têm o poder de atravessar séculos e ainda dialogar com o presente. Entre autores de clássicos que atravessam gerações, as irmãs Brontë são conhecidas por suas narrativas intensas, despertando interesse de muitos leitores mundo afora.


Por isso decidi ler as obras que ainda não conheço das irmãs Brontë durante esse ano e os próximos (não defini um prazo, só uma intenção mesmo), seguindo a ordem cronológica de publicação (que eu tirei de sugestão desse site aqui).


Segundo eles, a ordem cronológica de publicação seria essa (em vermelho os que já li), o que fez com que a leitura escolhida da vez fosse "A inquilina":


  • Jane Eyre (Charlotte)

  • O morro dos Ventos Uivantes (Emily)

  • Agnes Grey (Anne)

  • A Inquilina de Wildfell Hall (Anne)

  • Shirley (Charlotte)

  • Villette (Charlotte)

  • O Professor (Charlotte)


Primeiro, os detalhes da obra:


Título: A Inquilina de Wildfell Hall

Autor:  Anne Brontë (Acton Bell)

Editora: Penguin-Companhia

Ano: 2021 (minha edição), 1848 (original)

Páginas:  624

Minha avaliação: ⭐⭐⭐⭐⭐ (5/5)


Sinopse:  Gilbert Markham está intrigado com Helen Graham, a bela e misteriosa mulher que acabou de se mudar para Wildfell Hall com o filho e sem o marido. Gilbert é rápido em oferecer amizade, mas, quando o comportamento recluso da inquilina começa a ser motivo de fofoca na cidade, ele se pergunta o que mais pode haver na história daquela família.

Quando Helen permite que Gilbert leia seu diário, ele começa a entender os detalhes obscuros de sua vida, seu casamento desastroso e a situação em que a vizinha se encontra.

Narrado com precisão e carisma, A inquilina de Wildfell Hall é uma descrição poderosa da luta de uma mulher por independência na Inglaterra vitoriana.



Como a sinopse já está acima, vou escrever apenas sobre as minhas impressões de leitura.


Anne, muitas vezes considerada a mais calma, devota e realista das três irmãs Brontë, desafiou convenções com A Inquilina de Wildfell Hall, abordando temas como abuso e liberdade feminina. E caramba, não há como discordar disso.


A edição que eu li (Penguin Companhia - eBook) inclui o prefácio à 2 edição em que a Anne aborda as críticas que foram feitas ao romance. Ela fala ali sobre não amenizar nada, sobre seu compromisso unicamente com a verdade. Ler esse prefácio já me deu o tom do que eu iria encontrar pela frente, mas eu percebi depois que não estava preparada. Isso porque minha experiência prévia com Agnes Grey mostrou tudo mais amenizado, onde toda a crítica é muito sutil - então eu até esperava que iria ter um tom mais forte nessa obra por conta do prefácio, mas ainda assim achei que com menos intensidade do que realmente foi.


A história é toda contada através de dois diferentes POVs: as cartas do Sr. Gilbert para seu cunhado e as passagens do diário de Helen. No início acompanhamos a visão do Sr. Gilbert, onde ele conta sobre a chegada dela ao povoado. Ela é uma mulher diferente, mais reclusa, e que imediatamente já desperta a curiosidade local pois se muda com o filho pequeno Arthur e sem um marido. Para todos ela diz ser viúva e que se sustenta através da venda de suas pinturas.


Devagar, somos apresentados a todo o contexto da chegada e a comoção causada pela presença de tal dama mais reclusa (tudo isso através da visão do Sr. Gilbert Markham). O povo da região, claro, começa as teorias sobre ela, principalmente por ela querer se esconder (não assinando suas pinturas com seu nome, por exemplo) e por ela ser muito apegada ao filho. Nessa hora a nossa protagonista já diz a que veio: ela não só adota sua própria maneira de se apresentar para a sociedade local (sem adotar os costumes tradicionais), mas também expõe seus pensamentos abertamente e sem cerimônias.


Ao ler o livro eu conseguia imaginar o choque que essa personagem deve ter sido para a época. Em um determinado momento ainda no início da leitura ela questiona abertamente o modo como a sociedade achava adequado educar meninos e meninas, na medida em que foi recriminada pelo modo como estava criando seu filho, tão próximo e com bastante proteção.


"Pois bem, o senhor deve achar que ambos são fracos e propensos a falhas, e o mínimo erro, a menor sombra de contaminação arruinará um enquanto o caráter do outro será fortalecido e embelezado..."

É preciso lembrar que falamos de uma época em que mulheres eram tidas como propriedade dos maridos ou da família (no caso de homens da família). Ora, como ela ousa criar um filho com tanta proteção? Estaria ela criando um filho fraco e não um homem de verdade?


Toda essa aura de mistério, fortes opiniões e comportamento diferenciado vai fazendo o Sr. Gilbert se apaixonar aos poucos. E quando ele finalmente encontra coragem para dizer isso a ela, passamos a acompanhar a perspectiva dela sobre sua vida pregressa pois ela diz a ele que ele só poderia conhecê-la de verdade se conhecesse seu passado. E é aí que ela entrega seu diário a ele.


"Quando ela se foi, senti que não havia mais graça - embora fosse difícil dizer qual seria sua contribuição para o divertimento do grupo."

Começamos então a ler seu diário e conhecer os motivos pelos quais ela adota a postura que tem hoje. Sua história no diário começa desde quando ela, jovem e ingênua, apaixona-se por Arthur Huntingdon, um homem de reputação questionável na sociedade. Indo contra o conselho de seus parentes (especificamente sua tia), ela decide se casar com ele. Interessante que temos aqui uma jovem apaixonada, cega para o que está diante dos olhos dela, cega para a opinão de todos, crente que conseguirá mudá-lo pelo amor e pela fé.


Na perspectiva do leitor, dá até um nervoso pois conseguimos ver coisas que ela não consegue, dada sua juventude e falta de experiência. As coisas começam a mudar após o casamento e tudo que ela acreditava como verdade acaba por se desfazer, fazendo com que ela tenha que amadurecer rapidamente vivendo na companhia de seu marido, na casa Grassdale.


É aí que está o grande ponto da obra. Ao invés de aceitar tudo que acontece quieta, tal qual era comum na época vitoriana, Helen assume para si a posição de protagonista da própria vida e da própria história, doa a quem doer.


Achei a leitura bem interessante, apesar da parte do diário de Helen ser um tanto lenta. Como se trata de uma obra clássica, já esperava uma certa lentidão na forma de contar a história. Desde o início da leitura do diário dela até cerca de 79% do livro, temos um avanço um pouco cansativo, no sentido de que acompanhamos somente a percepção de Helen pelo viés da época - e ainda de forma epistolar - o que torna tudo bem mais lento. Como uma leitora nascida em outra época, confesso que deu uma vontade de entrar na história e dar um chacoalhão naquele pessoal todo. Me irritei bastante com a vida de aparências dos velhos tempos.


Depois disso, quando a história começa a se encaminhar pro final, tudo volta a ficar bem mais interessante pois ocorre a ligação lá com o começo da obra, onde o Sr. Gilbert narra a chegada dela em Wildfell Hall. Nesse momento ele retoma a narrativa para que possamos saber como a história se encerra. E se eu achava que a retomada dele era o final feliz que tanto esperamos.... eu fui totalmente pega de surpresa pelo que acontece logo depois dessa retomada e um pouco antes do final feliz!


Nesse ponto percebi o quão complexa é a personagem de Helen e o quão genial foram as irmãs Brontë na literatura. As camadas que elas colocam em seus personagens vão sendo construídas e a gente vai refletindo a respeito das escolhas de todo mundo. Isso fica ainda mais claro nas emoções que a leitura me causou. Apesar de ter me sentido muito traída com a atitude de Helen perto do desfecho, eu a entendi perfeitamente. O mesmo com o enfadonho Huntingdon.


Se pensarmos e pesquisarmos todo o contexto da era vitoriana, onde essa história se passa, percebemos o quanto Anne foi ousada e porque a obra foi duramente criticada. Estamos falando de uma época em que mulheres casadas, filhos e todos os pertences eram propriedade de seus maridos, pela lei. Bizarro pensar isso hoje em dia, né?


Tive a impressão de que o Sr. Gilbert se apaixonou por Helen justamente por ela ter a coragem e força que ele mesmo não tinha. Como se ele buscasse nela qualidades que ele não conseguia ver nele mesmo. Aliás, buscando o texto de apoio da obra (recomendo ler somente depois do livro para fugir de spoilers), concordei com o fato de que os homens da obra foram retratados diferente da forma tradicional da época - ou seja - sem aquele viés de perfeição, da mesma forma que Helen retratou o que muitas mulheres da época talvez viviam em segredo.


Tanto Huntingdon como Markham são imperfeitos: Markham é colocado como temperamental e impulsivo enquanto Huntingdon é egoísta e manipulador. Obviamente isso iria causar frenesi para a época, ainda mais que todos acreditavam que a obra havia sido escrita por um homem. Aliás, eu peguei tanto ranço do Huntingdon que coloquei ele no mesmo nível do já tão famoso Heathcliff (personagem de "O Morro"). Do Heatcliff eu até senti pena em alguns momentos, mas do Huntingdon não senti pena nenhuma (que personagem xexelento e asqueroso minha gente!).


Gostei dessa leitura. Para mim, superou muito "Agnes Grey". Uma ressalva: apesar de eu ter achado o enredo em si melhor do que "Jane Eyre" - falando em temática e complexidade -, senti que a inquilina foi mais cansativo e um pouco mais denso.


É uma obra carregada de nuances e com toda essência de Anne. Ela, muito religiosa, ancora todas as condutas de seus personagens no aspecto religioso (seja observando os princípios religiosos ou fugindo deles). É uma obra clássica que merece a fama que tem, na minha opinião.


Com essa leitura eu finalizei as obras da Anne e da Emily. Só vai faltar terminar a obra da Charlotte. Acho Charlotte ótima, mas acho difícil que supere as irmãs na minha preferência.


Deixo aqui a minha ordem de prefrência até agora:


  1. O morro dos Ventos Uivantes (Emily)

  2. A Inquilina de Wildfell Hall (Anne)

  3. Jane Eyre (Charlotte)

  4. Agnes Grey (Anne)


Para finalizar e aproveitando que estou tentando fazer o desafio de 52 livros, fiquei feliz que consegui encaixar no mês uma leitura que quebra a quarta barreira. Isso porque o romance é estruturado como uma narrativa emoldurada, onde Gilbert Markham escreve uma longa carta a seu amigo Halford, recontando a história. Por ter um estilo epistolar, há uma abordagem direta ao leitor, pois Gilbert ocasionalmente reflete sobre sua própria narrativa.



E você, já leu este ou outro clássico das irmãs Brontë? O que achou da história e das personagens? Vamos conversar!


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