Resenha | A garota roubada (Tess Stimson)
- Michelle Leonhardt
- Jun 13
- 6 min read
Hoje trago resenha e impressões de uma leitura que me deixou tensa - daquelas que fazem a gente prender a respiração sem nem perceber. Estou falando de "A garota roubada", da Tess Stimson. Essa é uma história que gira em torno de um desaparecimento, uma leitura um tanto desconfortável, mas impossível de largar.
Fica comigo para saber mais...

Título: A garota roubada
Autor: Tess Stimson
Editora: Trama
Ano: 2023
Páginas: 376
Minha avaliação: ⭐⭐⭐ (3/5)
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Sinopse:
“O que você estava fazendo quando sua filha desapareceu, Alexa?”Lottie é uma menina teimosa, obstinada e extremamente inteligente. Ela exige o máximo de energia e atenção que sua mãe, Alexa Martini, uma advogada de direitos humanos, pode lhe dar. Após uma gravidez não planejada e a perda do ex-marido em um acidente, Alex está fazendo de tudo para criar a filha da melhor maneira possível, e daria a própria vida por ela. O problema é que nem sempre tudo sai como o esperado. O dia do casamento de um amigo da família é um desses em que tudo foge do controle. É neste dia que sua filha simplesmente desaparece. O caso de Lottie ganha a atenção de todo o mundo, e os “juízes da internet” são cada vez mais implacáveis. Por que Alex não estava ao lado da filha no momento em que ela desapareceu? O que estava fazendo? Por que não estava atenta a cada passo de Lottie, a cada segundo do dia da menina? As suspeitas, consequentemente, recaem sobre seus ombros. Passando pelo pior pesadelo de uma mãe e tendo de enfrentar a pressão da mídia, da polícia e da justiça, Alex teme que nunca descubram a verdade, que o caso nunca seja solucionado ― e ela não vai medir esforços para encontrar quem levou Lottie e finalmente saber o seu paradeiro, ainda que isso custe todos os seus anos de vida.
Como a própria sinopse já entrega, essa história gira em torno do desaparecimento de uma criança. A principal protagonista dessa história é Alex, uma mulher de 29 anos bastante focada em sua carreira, que também é mãe solo de uma garotinha de 3 anos (Lottie), já que seu marido faleceu em um acidente na Itália.
Alex e Lottie são convidadas para ir a um casamento de um amigo no Flórida. Alex e Lottie são respectivamente madrinha e daminha no casamento. Lottie não é uma criança de muita paz, ela é descrita como mimada, teimosa e difícil de lidar, o que preocupa sua mãe, já que ela quer que sua filha se comporte e que tudo dê certo na festa do amigo. Assim, ela fica vigiando constantemente a filha no início da festa, garantindo que a mesma cumpra seu papel designado. Tudo vai indo bem até que, no final da festa, Alex se distrai e o pior acontece: Lottie desaparece — e ninguém na festa parece ter visto nada.
"Até onde uma criança de 3 anos pode ir em cinco minutos? Em dez? Em vinte?"
A partir daí, a história se desdobra como um quebra-cabeça emocional, contada por diferentes perspectivas: a da mãe em desespero, da jornalista obcecada pela cobertura e até da figura misteriosa por trás do desaparecimento.
A mãe vai nos contando sua visão sobre o desaparecimento. Ela vive inicialmente uma culpa imensa pois sabe que não é aquela mãe ideal dos comerciais de margarina. Internamente, ela sente que não queria ser mãe, mas a vida quis algo diferente para ela. Além disso, após cumprir o seu ritual de madrinha e garantir que Lottie se comportasse no casamento, Alex tirou um tempo para curtir a festa, já que considerou o hotel seguro, sendo os convidados todos de um mesmo círculo de amizades do casal. Embora o casamento tenha ocorrido na praia pública, era uma festa fechada, com seguranças nas saídas, garantindo apenas acesso aos convidados. E as daminhas todas iriam da praia até o salão juntas, caminhando apenas alguns metros e junto com os demais convidados.
Agora ela se sente perdida, vivendo uma dor absurdamente visceral. Mas para além da sua própria culpa, ela começa a ser julgada pela sociedade, afinal, como ela não estava presente 100% do tempo da festa ao lado da filha?
O caso ganha destaque mundial e uma famosa jornalista acostumada a cobrir guerras, é designada para cobri-lo. Acontece que a jornalista é obcecada por notoriedade e começa a manipular a mídia para construir teorias que deixam o assunto em voga nas mídias. Ela tem experiência e sabe como contar a história. E ela consegue, claro, que essa mãe seja julgada por toda a sociedade, desviando a atenção da real busca pela garota e fazendo com que a própria mãe duvide de tudo que sente e sabe.
"Estou começando a duvidar da minha própria versão dos acontecimentos. Sinto que estou ficando louca"
Durante o decorrerda leitura, cada capítulo adiciona uma nova camada de tensão e revela que, por trás das aparências, todos guardam alguma verdade não contada.
Minhas impressões:
A escolha de ler esse livro foi motivada, em grande parte, pela frase que está na capa: "você pensa que está em segurança, mas está errado.". Essa frase me chamou muita atenção e eu não consegui ignorar. Sei lá! Para mim criou uma sensação imediata de alerta e tensão. Além disso, minhas últimas leituras foram dramas e romances então eu estava precisando de uma história mais frenética.
Escrita envolvente e temas relevantes
Nunca havia lido nada da autora e gostei da forma como ela escreve. O ritmo é ágil e com capítulos curtos. A premissa te mantém em alerta e consegue criar tensão. Também gostei bastante dos temas abordados e por isso decidi levantar pontos positivos que fazem com que o enredo consiga manter o interesse:
1. Desaparecimento repentino - enredo que permite identificação
Lottie some durante um casamento — e o que parece ser um sequestro comum vira um labirinto emocional e psicológico, onde ninguém é confiável. Imediatamente quis saber quem estava envolvido, funcionando quase como um "locked-room mystery". Afinal, na festa, todos eram amigos do casal em matrimônio. Além disso, é fácil se identificar: todo mundo (mesmo que não seja pai ou mãe) conhece alguma criança na sua família e pode entender o desespero que uma situação dessas geraria.
2. Várias vozes, muitas verdades
A história é contada por diferentes POVs: mãe, jornalista, sociedade e até quem está envolvido no desaparecimento. Eu gosto muito desse recurso de narrativa, me desperta interesse e funciona bem para o gênero.
3. A maternidade
O livro mergulha fundo em questões femininas complexas: maternidade, culpa, julgamento, empatia. Mostra que a maternidade glamourizada não é a maternidade real. Nesse ponto, esse livro explora muitas camadas: uma mãe é julgada (como sempre acontece) por qualquer coisa que ela faça, seja grande ou pequena. Não é a toa que há um ditado que diz: nasce uma mãe, nasce a culpa. Mais do que um suspense sobre o sumiço de uma criança, A Garota Roubada é um mergulho profundo nas complexidades da maternidade moderna e no julgamento constante da sociedade.
"Mas agora sei que a gente aprende a existir nos espaços em volta do sofrimento. Continua vivendo, queira ou não"
4. Segredos
Cada página revela algo novo. Um detalhe escondido. Um passado mal resolvido. Ninguém escapa ileso - também comum no gênero, mas agrega tensão na história, no momento em que passa a trabalhar com narrativas não confiáveis.
5. O papel cruel da mídia
Com a investigação exposta para o mundo, a dor da perda vira espetáculo. O livro levanta uma pergunta inquietante: quando a justiça se perde no meio da exposição pública?
"(...) há mais de dois anos sou propriedade pública. Não existe um cantinho da minha vida que não tenha sido exposto e desnudado para o julgamento."
Entre a tensão e o exagero, minhas ressalvas...
Mas como nem tudo foi positivo durante a leitura, apresento também minhas ressalvas. Se por um lado o desaparecimento permite uma identificação imediata, por outro lado as reviravoltas colocadas pela autora me decepcionaram. Após um desenvolvimento ágil e cheio de tensão, duas revelações do enredo soaram inverossímeis. Em um determinado momento da história temos uma revelação que, na minha opinião, até foi tolerável como liberdade poética. Entretanto, o final... me decepcionou um pouco. Além de muito rápido, o final contou com muitos acontecimentos bizarros. Como eu escolhi escrever as resenhas sem spoilers, não posso falar muito sobre, mas foram escolhas um tanto dramáticas considerando os personagens envolvidos.
Vale a pena ler?
Sim, a história é deliciosa de acompanhar. "A Garota Roubada" não é o suspense mais impactante do mundo, e seu final pode gerar opiniões divididas — talvez até frustrar alguns leitores. Mas vale lembrar: uma boa história se constrói no caminho, não apenas na chegada. E nesse percurso, Tess Stimson entrega tensão, bons dilemas morais e personagens femininas complexas. Por isso, mesmo com ressalvas, é uma leitura pode valer a pena — especialmente para quem gosta de tramas familiares cheias de camadas e suspense emocional, sem priorizar apenas o final da história.
E você, já leu esse livro? O que achou do desfecho e das escolhas da autora? Me conta nos comentários para a gente conversar!
Até a próxima.
n.33
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