Resenha | Sete anos entre nós (Ashley Poston): um romance onde o relógio não dita as regras.
- Michelle Leonhardt
- 5 days ago
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O tempo costuma ser o fio condutor de muitas histórias de amor - encontros, desencontros, esperas, recomeços. Mas e se, por um instante, o tempo decidisse sair de cena? Em "Sete anos entre nós", de Ashley Poston, descobri um romance delicado onde o relógio perde o controle e o coração ganha espaço para sentir sem pressa.
Depois dos detalhes da obra, seguem minhas impressões...

Título: Sete anos entre nós
Autor: Ashley Poston
Editora: Arqueiro
Ano: 2025
Páginas: 388
Minha avaliação: ⭐⭐⭐⭐ (4/5)
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Sinopse:
Seis meses atrás, Clementine West teve o pior dia de sua vida. Então resolveu seguir à risca um plano para deixar o coração longe de problemas: manter-se sempre ocupada, trabalhar como se não houvesse amanhã e não correr risco nenhum.
Por ora, está funcionando.
Até que, do nada, ela dá de cara com um homem na cozinha de seu apartamento. Um homem de olhos gentis, voz grave e um gosto especial por torta de limão. O tipo de homem pelo qual Clementine seria capaz de se apaixonar perdidamente.
Ele é perfeito, exceto por um detalhe: o homem existe no passado. Sete anos atrás, para ser exato. E Clementine existe no futuro dele. Sete anos à frente. A história teria tudo para ser impossível, mas, quando criança, Clementine amava coisas impossíveis.
E agora talvez passe a amar de novo.
Como já diz a sinopse comercial, a história acompanha Clementine, uma jovem editora que está lidando com a perda recente de sua tia - uma figura materna importante em sua vida. Após a morte da tia, Clementine herda seu antigo apartamento, um lugar cheio de memórias da infância e de momentos marcantes.
Durante a mudança, Clementine vive uma experiência inesperada: um dia, ao entrar no apartamento, ela encontra um jovem chamado Iwan em sua cozinha. Ele é aspirante a chef, cheio de energia e vida. Logo Clementine percebe que o apartamento tem uma conexão especial com o passado - ele funciona como uma dobra no tempo, podendo transportá-la para sete anos antes.
Assim, enquanto segue sua vida no presente, Clementine também passa a conviver com Iwan em alguns momentos, sempre que o apartamento decide transportá-la no tempo. O encontro com Iwan desperta nela sentimentos e reflexões profundas, fazendo com que ela se apaixone por ele. O grande problema é que ela está no passado, ou seja, um relacionamento surgido ali jamais poderia se estender ao presente, pois o tempo lá no futuro obviamente os afastou, e suas vidas tomaram rumos diferentes (e ela sabe disso já que conhece sua vida 7 anos depois, né?).
À medida que alterna entre presente e passado, Clementine passa a perceber que algumas coisas não estão sob seu controle. Ela precisa aprender a lidar com o luto, com as escolhas feitas e com a inevitabilidade do tempo.
Minhas Impressões:

Essa foi a escolha do mês de maio no clube de leitura que eu participo. Confesso que, inicialmente, não era um livro que eu teria escolhido por conta própria pois não se trata de um dos meus gêneros favoritos.
Sempre tive a impressão de que comédias românticas funcionam melhor nas telas do que nas páginas. Em filmes ou séries, a leveza, o timing cômico e os tropeços do amor ganham mais ritmo, expressão facial, trilha sonora - tudo ajuda a criar o clima gostoso e envolvente. Já nos livros, muitas vezes essa fórmula parece se esticar demais. O que seria uma cena divertida e dinâmica vira muitas páginas de diálogos melosos que podem cansar.
Porém, nesse caso, ao ler a sinopse, me vi completamente atraída por alguns dos elementos extras da história: o tema do tempo e a pitada de realismo mágico. Esses dois elementos foram o suficiente para despertar a minha curiosidade.
Eu, que não gosto muito do gênero, acabei surpresa, pois avaliei o livro com 4 estrelas. Não me emocionei horrores e nem achei que foi o melhor livro de romance que eu já li na vida. Mas, durante a leitura, percebi uma história sensível sobre memórias, segundas chances e aceitação. Aqui o realismo mágico serve para nos mostrar que não há como se consertar o passado, mas é preciso compreendê-lo. Para seguir em frente, afinal, é necessário deixar o passado ali, no seu canto, como uma memória apenas, como fonte de aprendizado.
Claro que se trata de uma comédia romântica então óbvio que temos um final feliz. As tramas de passado e presente se conectam e eles se reencontram sim (isso não é um spoiler pois todo mundo que lê o gênero sabe que isso iria acontecer), mas com personagens mais amadurecidos, mais realistas, mais resilientes. Achei esse desenvolvimento dos personagens bem legal, bem trabalhado.
Outro ponto que me chamou atenção foi como a autora trabalhou o tempo. Ela construiu a narrativa de forma a mostrar que o tempo muda as pessoas. O passado, na história, mostra para Clementine que é preciso se reconhecer no tempo presente, enfrentando todas as cicatrizes daquilo que pode ter sido traumático, mas sem usá-lo como fuga. Não é a toa que há um ditado que diz que a "ansiedade" seria viver no futuro, enquanto a "depressão" seria viver no passado. Interessante que ambos os protagonistas lidam, em alguns momentos da história, com a depressão de se querer estar no passado e com a ansiedade de se querer estar no futuro.
Enquanto lia sete anos entre nós, não consegui deixar de me lembrar de outro livro - "Momo", de Michael Ende - um livro infantil que, como esse romance de Ashley Poston, trata o tempo não como medida exata, mas como experiência emocional. em muitos momentos, as palavras e citações de Ende voltavam à minha memória, como: "As pessoas tem tanto medo de perder tempo que acabam não vivendo." Clementine, a protagonista do livro de Ashley, vive exatamente esse dilema: entre o passado que dói e o presente que exige pressa, ela precisa reaprender a existir no tempo que o coração leva. Como em Momo, onde "há coisas que só existem se forem feitas com calma", o romance nos convida e respeitar os próprios ritmos, a desacelerar e perceber que "O tempo é vida. E a vida mora no coração".
Mesmo em histórias muito diferentes, algumas verdades sobre o tempo permanecem as mesmas e foi por isso que conexão entre os dois livros surgiu automática para mim. Momo é um livro que fala muito sobre o tempo e a vida, sobre como o tempo é vivido e percebido. Não é o assunto desse post, claro, mas toda essa questão de tempo mexe muito comigo. Achei que os dois livros abordam bem a questão da importância de se viver o tempo de forma plena e consciente.
No fim, "Sete anos entre nós" tem uma proposta delicada e um toque melancólico que me chamou atenção. Sim, ele entrega momentos muito bonitos e reflexivos, sobre luto, perdas, recomeços e tempo.
E você, já leu Sete anos entre nós? Como lida com o tempo na sua vida? Compartilhe comigo suas reflexões!
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