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Resenha | A guerra que me ensinou a viver (Kimberly Brubaker Bradley)

  • Writer: Michelle Leonhardt
    Michelle Leonhardt
  • Oct 14
  • 6 min read

Updated: Oct 16


O post de hoje é sobre o livro "A guerra que me ensinou a viver", da Kimberly Brubaker Bradley. Eu li esse livro logo na sequência do primeiro livro (resenha aqui) e achei que foi ótimo pois a continuação da história mergulha ainda mais fundo na vida emocional de Ada, mostrando que a verdadeira batalha não está apenas na guerra ao redor, mas dentro dela mesma.


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Título: A guerra que me ensinou a viver

Autor:  Kimberly Brubaker Bradley

Editora: Darkside

Ano: 2017

Páginas:  288

Título Original: The war I finally won

Minha avaliação: ⭐⭐⭐⭐⭐ (5/5)


Sinopse:  Após uma infância de maus-tratos, Ada finalmente recebe o cuidado que merece ao ter seu pé operado. Enquanto tenta se ajustar à sua nova realidade e superar os traumas do passado, ela se muda com Jamie, lady Thorton e Susan ― agora sua guardiã legal ― para um chalé em busca de um recomeço. Com a guerra se intensificando lá fora, as adversidades batem à porta: o racionamento de alimentos é uma preocupante realidade, e os sacrifícios que todos devem fazer em nome do confronto partem corações e deixam cicatrizes. Outra questão é a chegada de Ruth, uma garota judia e alemã, que gera uma comoção no chalé. Seria ela uma espiã disfarçada? Ou uma aliada em meio à calamidade?


O enredo (sem spoilers)


O livro começa exatamente de onde o anterior parou: Ada está no hospital fazendo uma cirurgia para corrigir o seu pé torto. Agora ela estará livre para correr, pular, cavalgar e fazer todas as coisas que se privou durante tantos anos. Após voltar do hospital, fica sabendo que a casa onde vivia com Jamie e Susan foi bombardeada e já não existe mais. Agora ela terá que morar de favor em um chalé no terreno da enorme propriedade de Lady Thorton.


Pouco depois de se mudar para lá, a casa principal, a de Lady Thorton é requisitada pelas forças de guerra, então Ada passa a ter que conviver com Lady Thorton também morando no chalé. Isso inicialmente causa muito desconforto em Ada. E não para por aí: ela é obrigada a conviver com uma nova garota que chega para ter aulas com Susan. Essa garota se chama Ruth e também está fugindo da Alemanha. Para ela, seu único conforto e porto seguro é o seu pônei: Manteiga.


O tempo passa e muitas coisas vão acontecendo na vida de todos os habitantes do chalé: o racionamento da guerra, o uso de blackout nas janelas, o trabalho de observação na torre do campanário... de toda essa convivência, algumas relações passam por momentos conturbados, mas todos precisam lidar com as situações com muita resiliência.


As ocasionais visitas de sua melhor amiga Maggie (filha de Lady Thorton), do outro filho de Lady Thorton (Jhonatan) e de lorde Thorton trazem notícias e acontecimentos marcantes para Ada. Porém algo muito maior acontece e o mundo de Ada é repentinamente abalado de uma forma muito profunda.




Minhas interpretações da obra (agora com spoilers!)


Diferente de outras postagens, decidi colocar alguns spoilers ao falar desse livro. Acredito que há muitos pontos interessantes de se compreender nessa obra. Então, se você quer evitar spoilers, pule essa parte e só retome após esse trecho todo que está por vir.


Começando pelo início do livro, finalmente acompanhamos a cirurgia no pé de Ada, um gesto de cuidado de Susan que a menina ainda não consegue compreender totalmente. Esse início já nos coloca diante da principal temática da obra: a necessidade de aprender a receber amor e confiar nos outros, mesmo depois de tanto abandono e sofrimento.


Quando Ada e Susan retornam para casa, após a cirurgia, encontram-na destruída pelo bombardeio. Para mim, esse evento é mais que um simples desafio físico, ele funciona (para a protagonista Ada) como metáfora da necessidade de desapego do passado e abertura para a construção de uma nova vida. Nesse retorno, Ada, Jamie e Susan precisam ir morar em um chalé na grande propriedade de Lady Thorton, que quase não tem mobília e é descrito como sem graça, frio e vazio. O vazio da casa, para mim, foi uma jogada da autora para oferecer um espaço simbólico para que Ada recrie referências, livre das marcas dolorosas de sua infância.


Quando a própria mansão de lady Thorton é cedida para os soldados em guerra, ela passa a viver junto com Ada, Susan e Jamie no chalé. Com a presença de lady Thorton, Ada precisa aprender a conviver com costumes, tradições e limitações que não escolheu, compreendendo que crescer e se abrir para o amor exige enfrentar situações desafiadoras. Esse aprendizado se intensifica quando Jamie quebra o braço, lembrando Ada que coisas quebradas — físicas ou emocionais — podem ser reparadas, reforçando o conceito de resiliência e cuidado.


Nesse momento, uma nova personagem é introduzida na história. A chegada de Ruth é um ponto de virada na narrativa. Ela representa o gatilho da mudança: Ada percebe que cada pessoa reage de forma diferente ao mundo, observando Lady Thorton rígida e desconfortável, enquanto Susan recebe Ruth com carinho e paciência. Essa constatação mostra para Ada que ela pode escolher como reagir frente ao desconhecido e que o afeto pode ser seguro, oferecendo o grande ponto de partida para sua transformação.


Após um tempo, Ada é aceita para fazer turnos de vigia no campanário da igreja, observando sinais de ataques aéreos. Simbolicamente, interpretei isso como um momento em que Ada começa a aprender a assumir o controle sobre suas próprias emoções.


Ada vai lidando com essas coisas, mas ainda se recusa a baixar sua guarda. Ela não consegue aceitar, apesar de todas as provas de amor que Susan oferece, que pode ser amada por alguém. A guerra dentro dela ainda está muito presente.


Indo para os acontecimentos mais marcantes do livro, a visita e morte de Jhonatan trazem a dor inesperada, testando sua resiliência e mostrando que mesmo com perdas, é possível continuar construindo vínculos afetivos.


E então Susan adoece. A pneumonia de Susan marca um momento de virada definitiva: ao cuidar de quem a ama, Ada finalmente compreende que pode amar e ser amada sem culpa ou medo. A pintura das cortinas de blackout se torna um gesto simbólico de expressão emocional e pertencimento, consolidando seu crescimento.


Quando o avião cai perto da torre do campanário, Lady Thorton entra em choque e depressão, pensando em como seu próprio filho morreu em circusntâncias semelhantes. E é aí que Ada, agora emocionalmente fortalecida, vai atrás de Maggie para ajudar a recuperar Lady Thorton, mostrando que transformar dor em cuidado é uma das maiores lições que ela aprendeu. Finalmente, a despedida de Ruth, que recebe seus pais antes de partir para o seu próprio trabalho de guerra, reforça para Ada que vínculos duradouros e o amor verdadeiro existem, e que confiar e se abrir é possível.


Nos capítulos finais, a história ganha um tom de fechamento e redenção emocional. O fechamento da duologia com a visita de Susan, Ada e Jamie ao túmulo de Becky, junto ao reencontro de Susan com a mãe de Becky, é um símbolo poderoso de que a nova vida que eles construíram se consolidou, mas que ainda exige coragem para enfrentar o mundo.


Por fim, ao presentear Ruth com Oban, o valioso cavalo de Jhonatan, Ada demonstra generosidade, empatia e amadurecimento emocional: ela entende que compartilhar algo tão precioso é uma forma de expressar afeto e confiança, consolidando tudo o que aprendeu sobre amor, cuidado e vínculos duradouros. Esses momentos finais mostram que Ada não apenas sobreviveu às guerras externas e internas, mas aprendeu a transformar dor em ações de carinho e esperança.




Fim dos spoilers e um apanhado de minhas impressões finais


Ao longo de toda a história, vemos Ada superar traumas, aprender a confiar e a se permitir sentir, mostrando que mesmo depois das maiores perdas e desafios, é possível crescer, amar e criar uma vida plena.


Ao longo da narrativa, a autora constrói uma história que mistura acontecimentos históricos, desafios do cotidiano e metáforas emocionais profundas. Cada obstáculo enfrentado por Ada contribui para sua transformação. A guerra que me ensinou a viver não é apenas um livro sobre guerra ou sobrevivência: é uma narrativa sobre resiliência, confiança, cura emocional e a descoberta de que todas as crianças, mesmo após traumas, merecem amor, cuidado e pertencimento.


O que mais me marcou nessa duologia foi ver como a Ada, apesar de toda a coragem e inteligência, luta para se abrir para o amor de Susan. Às vezes me irritei com ela, quis que se entregasse de uma vez, mas entendi que essa resistência vem de um lugar profundo de dor e abandono. É justamente essa dificuldade que torna cada gesto de confiança tão poderoso e emocionante. A história nos lembra que amar e confiar não é simples quando carregamos traumas, e que a paciência, o cuidado e a presença constante podem, aos poucos, transformar até os corações mais feridos.


Apesar de ser classificada como literatura infanto juvenil, a duologia "A guerra que salvou a minha vida" e "A guerra que me ensinou a viver" tem profundidade suficiente para conquistar leitores adultos. A narrativa consegue tratar da Segunda Guerra Mundial sem sobrecarregar o leitor com cenas pesadas ou excessivamente traumáticas, focando mais nas experiências humanas, nos vínculos e no crescimento emocional dos personagens. O resultado é uma história emocionante, sensível e reflexiva, capaz de encantar qualquer idade.




Quero saber de você...


Te convido a comentar me contando quais livros com histórias de superação mais te tocaram. Quero muito saber como esses temas ressoam em você.


Até a próxima.

n. 40



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