Morte no Internato (Lucinda Riley)
- Michelle Leonhardt
- Apr 9
- 5 min read
Hoje trago minhas impressões sobre um livro que foi bem comentado no meio literário já que foi publicado após a morte de sua autora Lucinda Riley.
Quem não acompanha muito o meio literário não vai ter ideia do alcance dessa autora. Ela é uma autora bem famosa e escreveu uma série chamada "As sete irmãs" que é muito aclamada e conhecida. Os livros da Lucinda já foram traduzidos em diversas línguas, e já venderam um total de mais de 30 milhões de cópias.
Além da série, ela já publicou muitos livros independentes também. Infelizmente ela morreu de câncer em 2021 e, após sua morte, seu filho mais velho está cuidando da publicação dos manuscritos deixados por ela. "Morte no Internato" é um desses manuscritos e o que chamou atenção da comunidade literária é que a autora não é famosa pela publicação de romances policiais.

Título: Morte no Internato
Autor: Lucinda Riley
Editora: Arqueiro
Ano: 2022
Páginas: 384
Título Original: The murders at Fleat House
Minha avaliação: ⭐⭐⭐⭐ (4/5)
Sinopse: A morte repentina de um estudante na Escola St. Stephen – um internato na região mais remota de Norfolk – é um acontecimento chocante que seu diretor faz questão de encarar apenas como um acidente infeliz.
Porém, a polícia local não descarta a possibilidade de um crime, e o caso traz de volta à ativa a inspetora Jazmine Hunter. Jazz se afastou da carreira policial em Londres, mas, relutante, concorda em participar da investigação como um favor a seu antigo chefe.
Ao analisar os detalhes da morte de Charlie Cavendish, ela descobre que o garoto fazia bullying com diversos alunos e que alguns tiveram o motivo e a oportunidade de trocar os comprimidos que ele tomava diariamente para controlar a epilepsia.
Para complicar a investigação, outro estudante some e um respeitado acadêmico morre na St. Stephen. Os novos acontecimentos trazem pistas importantes para o caso, mas, quando um dos suspeitos desaparece, Jazz se vê ainda mais enredada em mistérios.
Precisando enfrentar seus demônios pessoais, a inspetora percebe que aquela investigação é a mais desafiadora de sua carreira. O internato esconde segredos mais sombrios do que Jazz jamais poderia ter imaginado....
A sinopse já está acima então vou fazer um pouco diferente hoje. Não vou dar detalhes maiores da história, apenas escrever sobre as minhas impressões.
Essa não é a minha primeira experiência com a autora pois eu já li outro livro dela antes ("A árvore dos anjos"). Tive a mesma impressão da outra vez: que a Lucinda escreve um pouco parecido com a Kate Morton. São autoras que costumam apresentar muitos personagens no início da história, com cenas apresentadas sem uma grande conexão de continuidade ou relação entre elas (ou seja, parecem perdidas de contexto). Só no decorrer da leitura é que elas vão conectando as coisas.
Essa maneira de iniciar me incomoda um pouco. Incomoda porque não é só uma cena para dar aquele choque inicial (como faz, por exemplo, a Freida McFadden). Geralmente são cortes de uma grande cena ou múltiplas cenas apresentando diferentes personagens.
Para um thriller eu acredito que esse recurso pode até funcionar melhor pois estamos acostumados com outras mídias que apresentam as histórias da mesma forma. Como o ponto central nessas obras policiais geralmente é o assassinato, então acaba que as cenas inicialmente "perdidas e fora de contexto" servem para aguçar a curiosidade do leitor.
Acontece que, com todas essas autoras que citei, eu demoro para engatar a leitura já que preciso ficar voltando e relembrando quem é quem na história (quem é filho de quem, quem se relaciona com quem e como...). Ao mesmo tempo, por ser um thriller policial, fico querendo pegar as pistas mas tenho dificuldade em fazer ligações importantes no início da história. Daí alguns fatos acabam se perdendo pois não quero ficar voltando o tempo todo para pegar um ou outro detalhe que passou batido, entende?
Não sou entendida o suficiente em escrita para saber se é um recurso tradicional para que o leitor perca intencionalmente pequenos detalhes e pistas iniciais. Só sei que eu geralmente começo esses livros com sentimentos negativos e só vou me envolver mesmo lá pelos 30 ou 40%.
Nesse caso não foi diferente. Até mais ou menos 30% eu estava lendo sem muito envolvimento pois não estava fazendo muito sentido e eu não estava me identificando com personagem nenhum. Foi só depois de 30% que as relações foram se detalhando e eu passei a conseguir avançar sem me sentir chateada de não entender muito.
A partir daí eu fiquei empolgada. A minha sensação com a leitura mudou completamente. Eu comecei a me identificar com uns dois ou três personagens e ficar muito curiosa com o desfecho. Talvez esteja aí o motivo pelo qual essas autoras que eu falei antes sejam bastante reconhecidas, né? Apesar do início complicado, elas conseguem desenvolver bem o arco para te prender na história.
Alguns pontos para destacar:
Gostei da forma como a investigação foi conduzida. Achei a inspetora bem antenada, ela não deixou a desejar. A trama de sua vida pessoal também me prendeu muito, os problemas enfrentados por ela são bem comuns na vida de muita gente e a forma dela encarar tudo foi bem realista. Ela é uma personagem nem tão 8 e nem tão 80, ou seja, ela é uma personagem muito humana quando lida com sua vida pessoal e profissional. Eu leria facilmente outros livros tendo ela como investigadora (pena que a Lucinda não pode mais escrever, né?).
"[...] é muito mais difícil engolir o orgulho e defender uma opinião controversa do que fugir para salvar as aparências." (p.116)
A atmosfera e a ambientação são bem legais também. Nesse ponto acho que o(a) capista dessa obra acertou em cheio pois a capa já te coloca dentro da atmosfera onde a história se passa, aguçando a imaginação. Eu gosto da atmosfera de um internato localizado no interior - essa coisa de um prédio imponente e antigo - e consigo imaginar muito bem o cenário. As descrições do ambiente também foram muito bem feitas no decorrer do texto.
"Pesadelos são efeitos saudáveis em qualquer situação, embora não particularmente agradáveis. É a mente trabalhando os problemas ou medos e tentando racionalizá-los, ajudado a pessoa a lidar com eles." (p.218)
Senti falta de mais pistas da autora no decorrer do texto, mas fiquei com a sensação de que não foi um romance policial escrito com a intenção de que se desvende o mistério antes do fim. Não acho isso ruim de todo, mas eu particularmente gosto de romances policiais em que é possível ir juntando pistas que são colocadas de uma forma menos discreta no decorrer da narrativa.
O enredo é bem fechado e consistente. As relações entre todos personagens vão ficando mais claras e as motivações também. Não consegui achar motivos concretos para desconfiar de algumas pessoas que eram realmente culpadas e achei a explicação sobre a motivação de um dos crimes meio inverossímil, mas, de resto, achei que as pontas foram bem costuradas. Consegui adivinhar algumas coisas enquanto lia, mas somente aquelas que estavam mais evidentes.
“Olhe para o passado para ter sabedoria e para o futuro para ter esperança.” (p.233)
Em resumo: eu gostei dessa leitura e o saldo foi bem positivo, mas não amei completamente. Fui capaz de me envolver com a obra, fui capaz de me conectar um pouco com as vivências de alguns personagens. Senti curiosidade com o enredo e achei a finalização bem pertinente. Valeu quatro estrelas.