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Escravas de coragem (Kathleen Grissom)

  • Writer: Michelle Leonhardt
    Michelle Leonhardt
  • Feb 25
  • 4 min read


Resolvi fazer alguns posts sobre livros que li faz muito tempo, mas que escrevi e guardei informações sobre eles justamente porque as histórias me marcaram bastante. Vou começar por um romance forte e cativante que se chama "Escravas de coragem" de uma autora chamada Kathleen Grissom.


É um livro antigo, publicado no Brasil em 2014 pela editora Arqueiro. Possivelmente não se encontra mais para compra de exemplares novos, mas se você encontrá-lo em algum sebo e gosta da temática, vale dar uma chance.


O enredo se desenrola no período de escravidão nos Estados Unidos (1791-1810) onde temos história de uma família e seus escravos em uma plantação de Tabaco no estado da Virgínia, propriedade do Capitão James Pyke.


Lavínia ou Belle são as duas protagonistas da história que narram os acontecimentos através do seu ponto de vista, intercaladamente. Essa dupla narração de acontecimentos (e, consequentemente, de pontos de vista) é importante pois as personagens possuem diferentes entendimentos sobre alguns acontecimentos (visto que Belle é uma jovem adulta no começo do livro) enquanto Lavínia é ainda uma criança.


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O enredo começa com a narrativa de Lavínia, uma menina irlandesa e branca que perdeu os pais em uma viagUSAem de navio e foi levada pelo Capitão Pyke até a casa da cozinha de sua fazenda. Lá ela é acolhida pela escrava negra Belle (que na verdade é filha ilegítima do capitão) e toda a família de escravos da cozinha (e que atendem diretamente na casa grande). Existe também um outro ramo de escravos na fazenda (os que trabalham na plantação). O livro mostra claramente que as famílias escravas são formadas não por laços de sangue mas sim de convivência e amor (o que não é difícil de imaginar visto que os escravos eram comercializados individualmente e, muitas vezes, separados de suas famílias de sangue).


No seio dessa família escrava, Lavínia é acolhida. Os primeiros capítulos do livro mostram o impacto da chegada da Lavínia (uma menina de aparência frágil e bastante doente) no meio de uma família que luta pra se manter unida e ajuda uns aos outros acima de tudo. Também situa o leitor na dura realidade da escravidão quando desenvolve o drama entre Belle e o capitão (filha e pai) mas que é vista pela esposa do capitão e seus filhos (principalmente o mais velho) como sua amante.


Lavínia se recupera e a história se direciona para a relação de Marshall (o filho mais velho) e Dona Martha (a esposa) com os escravos e seu ressentimento para com Belle. E, a partir desse ponto, começa uma série de acontecimentos que nos mostra o horror da escravidão ao mesmo tempo que a lealdade dos escravos para com seus mestres (ex. quando um tutor é chamado para ensinar Marshall e os escravos percebem que algo não está correto, eles fazem de tudo para trazer a verdade aos olhos dos patrões - até que tomam atitudes drásticas para acabar com o sofrimento do garoto).


A história vai se desenvolvendo e mostrando não só os laços de lealdade mas também nos mostra a fragilidade do ser humano pois em alguns momentos os acontecimentos do passado (e os ressentimentos ou alegrias) mudam ou influenciam as escolhas de vida das personagens da mesma forma como acontece na vida de qualquer ser humano.


Depois de um tempo e alguns acontecimentos Lavínia, por ser branca, passa a morar com a irmã de Dona Martha em outra cidade (assim como seu filho Marshall). Lá ela não é tratada como escrava e sim como filha e, por consequência, acaba voltando para Tall Oaks como senhoria e não mais na casa da cozinha como antes de partir. Isso gera para ela uma necessidade de ajuste. O livro narra o conflito dela tentando viver a nova vida que lhe é imposta ao mesmo tempo que deseja abraçar a família que a acolheu. Na verdade, pra ir mais fundo, o livro mostra todos lidando com essa inversão de papéis, que, por sua vez, gera uma nova sequência de acontecimentos na fazenda. Um deles, por exemplo, é a ruína do casamento de Lavínia.


Junto com tudo isso há o declínio de poder da fazenda e a necessidade de venda de escravos para que o patrão tenha dinheiro e a luta da família escrava para permanecer unida acima de tudo. Unida não só entre eles (escravos) mas também Lavínia que, embora tenha se tornado dona dos escravos, ainda mantém seu coração junto com aqueles que foram sua única família por tantos anos.


Opinião:


O livro narra aproximadamente 20 anos da saga de uma família e seus escravos e é bem fiel a tudo que conhecemos sobre o assunto. Os personagens são muito bem construídos e contextualizados e, em nenhum momento, suas escolhas podem ser questionadas. Até mesmo Lavínia que, em um momento do livro, toma uma decisão que parece absurda na visão do leitor, está sendo guiada pela sua vivência e sua carga emocional de vida. E a autora acertou em deixar isso extremamente claro.


Além disso a história encanta pelo modo como é contada. A diferença na visão experiente de Belle e dos escravos e a visão ingênua e infantil de Lavínia (isso no começo da história).


Avaliação final: 4/5



Observações:


- Embora ótima pra quem gosta do gênero, não é uma leitura leve ou fácil (e, pelo menos na versão em inglês que eu li, foi feita uma opção por usar o modo de falar dos escravos, o que eu não sou particularmente fã. Na versão em português acho que isso se mantém. Se, por um lado, dá mais realidade, por outro incomoda a leitura)


- O enredo, do meio pro fim, parece um pouco apressado, sem a mesma riqueza de detalhes do inicio. Bastante compreensível já que a visão da criança Lavínia é muito mais romantizada do que a da adulta.




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